27/11/2011 às 20:54
O câncer infantil é estudado e clinicado de maneira diferente do câncer adulto. Entre as crianças os tumores costumam ser mais silenciosos, crescer rapidamente e com agressividade, embora respondam melhor à quimioterapia. Quando a cura precisa passar por consultórios públicos, os pequenos pacientes enfrentam em Cuiabá a ausência de remédios caros na lista do SUS e a demora na inclusão de novas drogas e procedimentos no rol de ações oferecidas pelo sistema.
Soma-se a isto a falta de médicos com vínculo empregatício com o Estado e que atendem patologias muito específicas na oncologia pediátrica, como a neurocirurgia e a ortopedia. Só se encontra esses especialistas em redes particulares e assim, essa omissão do poder público que mesmo com a crescente demanda de pedidos de atendimento não se move, fomenta o ‘boom’ da judicialização da saúde.
“O Estado não quer assumir sua responsabilidade e trazer para a rede de atendimento público médicos que fazem falta”, conta um dos mais antigos e experientes oncologistas pediátricos de Mato Grosso, Wolney Taques. Com consultório próprio e atendendo também pelo SUS, o médico reforça que existem pouquíssimos especialistas em neoplasias infantis e que o Estado devia se preocupar em inserir esses profissionais na rede para atender melhor os pacientes. “Emitir constantemente um documento de Tratamento Fora de Domicílio (TFD) é uma forma de se livrar do problema e um atestado de incompetência da saúde do Estado”, reforça o oncologista.
Estudos apontam que quando a justiça tem de intervir na Administração da saúde, acaba por comprometer o funcionamento do sistema e as receitas dos cofres públicos que se vêem obrigados, sem planejamento, a atender demandas judiciais. “Com certeza é muito mais oneroso para a saúde pública em Mato Grosso pagar frequentemente cirurgias por via judicial do que manter um médico especialista atendendo com vínculo empregatício nos hospitais”, reforça Taques.
De acordo com o oncologista, os médicos especialistas em patologias infantis como ortopedia e neurocirurgia que atuam em Cuiabá estão à disposição para atender via SUS, mas esperam ser contratados de maneira correta, viável e legal. Por conta da falta de condições e o desrespeito à atuação, muitos preferiram deixar a rede pública e se manter em consultórios próprios. Enquanto isto, os pacientes sem condições de pagar o tratamento são transferidos de Estado para se tratar, ou entram com liminares via Defensoria Pública para que o Estado arque com as despesas de cirurgias particulares.
Foto: Crianças em tratamento do câncer/Fonte: AACC-MT
Fonte: Ana Paula Ribeiro